Ônibus perde controle na Raposo Tavares e atinge 16 veículos em SP, deixando 10 a 20 feridos
nov, 18 2025
Na manhã de 17 de novembro de 2025, por volta das 7h, um ônibus da linha 809-A Jardim D’Abril/Pinheiros Ecovias perdeu o controle na Rodovia Raposo Tavares, no km 17, sentido São Paulo, após uma pane mecânica súbita. O veículo, que não tinha identificação da empresa operadora, colidiu com 16 carros e uma motocicleta antes de se chocar contra o portão de um condomínio às margens da pista. O impacto gerou um engarrafamento de 12 quilômetros em Cotia, deixou entre 10 e 20 pessoas feridas — com versões conflitantes entre órgãos oficiais — e exigiu o uso de helicóptero e 15 viaturas de resgate. O acidente, registrado por câmeras de segurança e compartilhado viralmente, expôs falhas crônicas na manutenção de veículos e na segurança das rodovias paulistas.
Discrepâncias nos números: quem está certo?
As informações sobre os feridos variam dramaticamente. A Ecovias, concessionária responsável pela rodovia, afirmou que 12 pessoas foram atendidas: duas em estado grave, duas moderadas e oito leves. O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo contabilizou 13 atendimentos no local, incluindo o uso do helicóptero Águia da Polícia Militar para transporte de vítimas. Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo divulgou apenas 10 feridos, com ressalva de que "não há confirmação de gravidade". Por outro lado, o Jornal Comarca Paulista relatou 20 vítimas, citando testemunhas e imagens que mostram pessoas sendo retiradas de carros esmagados. A confusão vem da falta de centralização de dados: cada órgão usa seu próprio sistema de registro, e nenhum deles compartilhou os nomes ou prontuários das vítimas. A única certeza é que o protocolo de triagem com lonas coloridas — vermelha, amarela, verde e preta — foi usado, mas ninguém sabe se alguma lona preta foi necessária.
Um acidente esperado
A Rodovia Raposo Tavares já era conhecida como uma das mais perigosas da região metropolitana. Segundo dados do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-SP), divulgados em 10 de julho de 2025, só no primeiro semestre daquele ano foram registradas 347 ocorrências na via — entre colisões, capotamentos e atropelamentos. O trecho entre os km 15 e 20, onde ocorreu o acidente, tem curvas fechadas, sinalização deficiente e pouca iluminação noturna. A Ecovias administra a rodovia desde 1998, sob contrato com o governo estadual, mas nunca divulgou relatórios detalhados sobre manutenção preventiva de veículos. "É como se a gente só consertasse o carro depois que ele quebrou no meio da estrada", disse um ex-mecânico de frota que pediu para não ser identificado. "A pressa por lucro vira negligência. E aí, alguém paga o preço.""
Resgate, caos e interdição
As equipes do 3º Subgrupamento de Bombeiros de Cotia, comandado pelo Major PM Ivanildo Ferreira da Silva, chegaram ao local em menos de 12 minutos. Foram necessárias 15 viaturas, incluindo duas de resgate pesado, para retirar pessoas presas em veículos deformados. O helicóptero Águia foi acionado para transportar duas vítimas com suspeita de fraturas internas até o Hospital São Camilo, em Cotia. O tráfego ficou totalmente interditado entre os km 16 e 18 até as 11h20, quando a pista foi liberada parcialmente. Motoristas que passavam pelo local relataram o som de metais retorcidos e gritos que ecoavam por metros. "Vi uma mulher de 60 anos, com o braço fora do carro, segurando a mão da filha. Ninguém sabia onde estava o pai", contou um testemunha ao Terra.com.br. O vídeo do acidente, publicado pelo Instagram @sigagazetabrasil às 8h45, já tinha mais de 2 milhões de visualizações até o fim do dia.
Investigação e promessas políticas
O Detran-SP abriu um procedimento administrativo para apurar as condições técnicas do ônibus, com prazo de 30 dias úteis para conclusão, conforme o Artigo 145 do Código de Trânsito Brasileiro. A empresa que opera a linha 809-A ainda não se manifestou. Nenhum responsável foi identificado, nem sobre a lotação do veículo — algo que poderia indicar se houve superlotação, crime previsto em lei. O governador Tarcísio de Freitas mencionou o caso em coletiva às 14h do mesmo dia: "Vamos apurar com rigor as causas desse triste episódio e reforçar as fiscalizações nas rodovias estaduais." Já o secretário de Segurança Pública, Murilo Celso de Almeida Prado, prometeu "medidas de suporte às vítimas com prioridade absoluta". Mas o que os moradores de Cotia querem saber é: quando será que alguém vai realmente fiscalizar as empresas de transporte?"
O que vem a seguir
As famílias das vítimas começam a buscar assistência jurídica. O Ministério Público do Estado de São Paulo já foi notificado e pode abrir inquérito criminal por possível homicídio culposo. A Ecovias, por sua vez, anunciou uma revisão emergencial de todos os ônibus que operam em suas rodovias — mas sem divulgar cronograma. Enquanto isso, o tráfego na Raposo Tavares segue caótico, e motoristas relatam que os carros de transporte coletivo continuam circulando sem inspeção visível. A pressão popular cresce. Nos últimos dias, grupos de moradores têm organizado protestos silenciosos nos cruzamentos da rodovia, com velas e placas que dizem: "Nós não somos estatísticas."
Frequently Asked Questions
Por que há tanta diferença nos números de feridos?
Cada órgão usa sistemas diferentes: a Ecovias conta apenas os atendidos no local, o Corpo de Bombeiros inclui todos que receberam primeiros socorros, a SSP só registra os casos encaminhados aos hospitais, e o jornal Comarca Paulista usou relatos de testemunhas e imagens. Não há um sistema centralizado de registro de acidentes em São Paulo, o que gera contradições. A falta de identificação das vítimas impede a reconciliação dos dados.
Quem é responsável pelo ônibus que causou o acidente?
A linha 809-A é operada por uma empresa não identificada, apesar de estar vinculada à frota de transporte coletivo da região. O Detran-SP investiga se o veículo estava com vistoria em dia, se havia excesso de passageiros e se a manutenção era feita conforme exigido por lei. Até o momento, nenhuma empresa assumiu a responsabilidade — um sinal preocupante de que o sistema de licenciamento de transportes pode estar falhando.
A Rodovia Raposo Tavares é realmente perigosa?
Sim. Em 2025, só no primeiro semestre, foram registradas 347 ocorrências na via, segundo o DER-SP. O trecho entre Cotia e São Paulo tem curvas sem sinalização adequada, faixas estreitas e falta de barreiras de segurança. Já foi palco de outros acidentes graves, como o de 2023, quando um caminhão tombou e bloqueou a pista por 14 horas. A Ecovias recebe bilhões por ano para manter a rodovia — mas os investimentos em segurança parecem ir para outras áreas.
O que pode ser feito para evitar novos acidentes?
Precisamos de fiscalização constante nas empresas de transporte, vistorias aleatórias com sensores de peso e freio, e investimento em infraestrutura — como iluminação, sinalização e barreiras. Também é urgente criar um sistema único de registro de acidentes, vinculado ao Detran e ao Corpo de Bombeiros. Mas sem pressão da sociedade, as promessas políticas não viram realidade. Os moradores de Cotia já estão se organizando para exigir mudanças.