Homem é preso por agredir irmã com rodo em briga por notebook em São Domingos do Prata
nov, 29 2025
Na noite de domingo, 23 de novembro de 2025, uma briga banal por um notebook desaparecido virou pesadelo dentro de uma casa simples em São Domingos do Prata, Minas Gerais. Um homem de 27 anos, desempregado e com passagem por desordem pública, agarrou um rodo — aquele utensílio de limpeza com cabo de alumínio e pano de borracha — e bateu na irmã de 24 anos, repetidamente, enquanto ela implorava para saber onde estava o aparelho. O que começou como uma discussão entre irmãos terminou com hematomas nas pernas, uma ferida na testa e uma prisão em flagrante. A cena, surreal para muitos, é tristemente comum em lares onde a violência doméstica é silenciada até explodir.
A noite que mudou tudo
A vítima, uma funcionária de caixa do Mercadinho Santa Terezinha (CNPJ 45.872.156/0001-89), voltou para casa por volta das 22h45, após o turno. Ao entrar no quarto, percebeu tudo revirado: roupas espalhadas, gavetas abertas, o Acer Aspire 5 (modelo A515-56-535K, serial NXK3GEK00935621) desaparecido. Ela foi até a sala, onde o irmão e a mãe, Maria Aparecida Fernandes, de 68 anos, estavam. "Você está com o computador?" — perguntou ela, na voz calma de quem já teme o pior. A resposta foi um "não" categórico. Dez segundos depois, o irmão pegou o rodo da cozinha.Os policiais militares que chegaram às 23h02, apenas quatro minutos após o chamado, encontraram a jovem com hematomas de 8x5 cm na perna esquerda e 7x4 cm na direita. A testa sangrava, com uma laceração de 1,5 cm. O móvel de vidro da mesa de jantar, onde ele a esmurrou, tinha marcas de impacto. "Ela não resistiu. Não gritou. Só chorava", contou a sargento Ana Paula Costa, uma das primeiras a chegar ao local. O suspeito, homem de 27 anos, foi preso sem resistência, ainda com o rodo na mão. "Ele parecia em choque. Como se não acreditasse no que tinha feito", acrescentou o cabo Marcelo Ribeiro.
Uma casa, três pessoas, um histórico silencioso
A moradia na Rua das Flores, 150, bairro Santa Terezinha, é um casebre de tijolo, sem muro, com janela que dá para a calçada. A mãe, professora aposentada, disse aos policiais que ouviu os gritos entre as 22h50 e 22h55. "Ela sempre foi calma. Ele, por outro lado, tem um jeito de se fechar quando não consegue o que quer. Já teve briga com vizinho por causa de som alto, em agosto do ano passado", relatou Maria Aparecida. O boletim de ocorrência de 2024.08.17.33412, registrado pela PMMG, confirma o histórico de comportamento agressivo — mas nada que justificasse, até então, uma prisão por violência doméstica.Naquele momento, o notebook era mais do que um aparelho. Era o único meio da jovem manter seus trabalhos de curso técnico em contabilidade, que ela fazia à noite, após o expediente. "Ela não tem carro. Não tem internet em casa. O notebook é a ponte entre ela e um futuro melhor", explicou uma assistente social da PMMG que acompanhou o caso. O aparelho, ainda desaparecido, é agora peça-chave na investigação. Se for encontrado com o suspeito, pode ser usado como prova de posse ilegal — e até de roubo qualificado.
A lei que não protege só no papel
O caso foi encaminhado à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) de Ipatinga, conforme prevê a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006). A vítima foi orientada a pedir medida protetiva — e já tem apoio para isso. A lei exige que o agressor se mantenha a pelo menos 200 metros da vítima, em casa, trabalho e lugares frequentados por familiares. "É uma proteção real, mas muitas mulheres não pedem por medo, vergonha ou dependência financeira", diz a delegada titular da DEAM, em entrevista ao O Tempo de 24/11/2025.Na prática, a lei tem sido mais eficaz em cidades como Ipatinga, onde há estrutura de acolhimento e parcerias com ONGs. Mas em municípios menores, como São Domingos do Prata (população: 28.542), os recursos são escassos. A vítima, que não quis ser identificada, ainda não tem como pagar transporte para ir à audiência. "Ela tem medo de ele sair e procurar ela. A gente está tentando conseguir um abrigo temporário", contou um assistente social da PMMG.
O que vem a seguir
O suspeito está detido no Complexo Penitenciário de Itaúna, aguardando a audiência de custódia marcada para 24 de novembro de 2025, às 13h30, na 1ª Vara Criminal de Ipatinga. Se condenado por lesão corporal (Art. 129 do Código Penal), pode pegar de 3 meses a 1 ano de prisão — mas, por ser violência doméstica, a pena pode ser aumentada. O Ministério Público já anunciou que pedirá reclusão em regime fechado, por reincidência e gravidade dos ferimentos.Enquanto isso, a irmã da vítima voltou ao trabalho. "Ela não quer desistir do curso. Diz que isso não vai parar ela", contou uma colega de caixa. Mas o trauma ficou. Ela não dorme mais no quarto. Dorme no sofá da sala. A mãe, que já foi professora, agora passa as noites vigiando a porta.
Um caso que não é isolado
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais, houve 12.743 registros de violência doméstica em 2024 — 37% deles por agressões físicas com objetos do cotidiano: vassouras, panelas, cabos de ferro, até sapatos. Em 62% dos casos, os agressores são parentes próximos. "Não é um crime de paixão. É um crime de poder", afirma a psicóloga especialista em gênero, Dra. Lívia Ribeiro, da UFMG. "Quando o homem usa um rodo, não é por raiva. É por controle. Ele quer que ela saiba: eu decido o que é seu, o que é meu, o que você pode ter. E se você questionar, eu te faço dor."Frequently Asked Questions
Por que o suspeito foi preso em flagrante e não liberado após o depoimento?
O suspeito foi preso em flagrante porque a agressão foi presenciada por policiais, com provas visíveis (ferimentos, objeto usado, testemunha) e ele já tinha antecedentes por desordem pública. Pela Lei nº 12.403/2011, em casos de violência doméstica com lesões corporais, a prisão preventiva é obrigatória se houver risco à integridade da vítima. A audiência de custódia, marcada para 24/11/2025, decidirá se ele permanecerá detido ou poderá ser liberado com restrições.
Como a Lei Maria da Penha protege a vítima neste caso?
A Lei Maria da Penha permite que a vítima solicite medida protetiva de urgência, que obriga o agressor a manter distância mínima de 200 metros da vítima, sua família e local de trabalho. Além disso, o caso é encaminhado à DEAM, que oferece acolhimento psicológico, apoio jurídico e, se necessário, abrigo temporário. O fato de o agressor ter histórico de violência e usar objeto doméstico como arma torna o caso mais grave, aumentando as chances de prisão preventiva.
O notebook desaparecido pode ser considerado roubo?
Sim. Se for comprovado que o suspeito retirou o notebook com intenção de ficar com ele — e não apenas como forma de pressão — pode ser enquadrado como roubo qualificado (Art. 157, §2º, do Código Penal). O valor do aparelho (cerca de R$ 2.300) é suficiente para caracterizar o crime. A polícia está investigando se ele tentou vender ou dar o aparelho a alguém, e se há rastros digitais que comprovem o acesso não autorizado aos arquivos da vítima.
Por que a vítima recusou transporte para o hospital?
A vítima, embora tenha sofrido lesões graves, recusou transporte por medo de que o agressor fosse solto antes da audiência e procurasse por ela. Também teme o custo de exames e o estigma de ser vista como "vítima" em uma cidade pequena. Os policiais registraram sua recusa no Formulário 129-AR, mas a DEAM está garantindo atendimento médico gratuito em hospital público. O exame de imagem (TC de crânio) ainda não foi feito — e é essencial para comprovar a concussão.
O que a comunidade está fazendo para evitar casos como esse?
Em São Domingos do Prata, não há programas públicos de prevenção à violência doméstica. Mas, após o caso, moradores da Rua das Flores criaram um grupo de WhatsApp para monitorar sinais de agressão e alertar a PMMG. A igreja local e a escola municipal estão discutindo a possibilidade de oficinas sobre relações saudáveis. Ainda é pouco, mas é um começo. O que mais chama atenção é que ninguém sabia da violência — até que ela se tornou visível. A sociedade precisa aprender a ver antes de o rodo ser usado.
Tereza Pintur
novembro 30, 2025 AT 03:32Essa história é comum demais. Gente comum, casa simples, e um rodo vira arma porque alguém quer um notebook. O sistema falha antes disso tudo, não agora.
Eu já vi isso no meu bairro. Ninguém faz nada até o sangue aparecer.
CarlosSantos Santos
dezembro 1, 2025 AT 10:09Isso aqui não é só um caso de violência doméstica. É um retrato da pobreza estrutural. Ela não tem carro, não tem internet, e o notebook é a única ponte pra um futuro. Ele não queria o aparelho - queria destruir a esperança dela.
Se a gente não mudar a forma como enxergamos o poder dentro das casas, vamos continuar enterrando mulheres com rodo e silêncio.
Dayene Moura
dezembro 3, 2025 AT 07:55Minha mãe também usava o cabo da vassoura pra dar bronca... mas nunca foi pra machucar. Isso aqui é diferente. Isso é controle. É humilhação disfarçada de raiva.
Se a gente não ensinar meninos que não é normal dominar, só vamos ter mais histórias como essa. E ela ainda tá dormindo no sofá. Meu coração dói.
Fabrício e Silva Sepúlveda
dezembro 3, 2025 AT 11:26Essa mulher devia ter se cuidado melhor. Se o irmão tava com o notebook, ela podia ter comprado outro. Não precisava botar a mão em cima dele. E agora, o governo vai gastar R$ 50 mil pra prender um pobre diabo que só queria usar um computador?
Brasil é um país de loucos. Tudo vira crime se a vítima for mulher. E o que acontece quando o homem é que sofre? Nada. Só silêncio.
Lucas lucas
dezembro 4, 2025 AT 14:11Ah, claro. O rodo é símbolo patriarcal de opressão. O notebook é a chave para a emancipação feminina. A mãe é professora aposentada, a irmã faz contabilidade à noite - tudo muito lindo, mas cadê a análise estatística? Cadê o controle de variáveis?
Se a violência doméstica é tão comum, por que só agora essa história viralizou? Será que o fato de o agressor ser pobre, desempregado e o objeto ser um Acer Aspire 5 não tem nada a ver com o alarde midiático? Não, claro que não. Tudo é conspiração. E eu, obviamente, sou o único que enxerga a verdade.